A crítica de Joaquim Cruz e a realidade sobre o dinheiro público para o esporte
Revista Veja apresenta entrevista com Joaquim Cruz, ouro nos 800m dos Jogos Olímpicos de 1984.

Diz ele:
“Todo mundo parece estar usando o esporte para servir a si próprio. Deixamos de investir na base e agora não temos quantidade nem qualidade”.
A manifestação sugere uma retrospectiva sobre o assunto.
Desde 2001 o esporte recebe dinheiro, muito dinheiro, do governo federal. Loterias, Lei de Incentivo, patrocínio as estatais, Bolsa-Atleta, orçamento do Ministério do Esporte etc.
E volto à tecla antiga: cada um faz seus planos, suas metas. Até o COB começou a adotar atletas para o polimento final e, assim, tentar levar o Brasil ao Top 10 do Olimpismo Mundial.
A meta do Top 10 foi fixada pelo Ministério do Esporte na III Conferência Nacional do Esporte, em 2010. A reunião, de quatro dias, não teve representante do COB nem das confederações, o que demonstra a falta de diálogo e entrosamento entre os órgãos que fazem o esporte nacional. Mesmo porque, a reunião foi mais uma afirmação político-partidária do que para debater sobre a realidade do segmento. Enfim...
Memória
2000 - até aí, anos de reinado do governo Fernando Henrique Cardoso, não havia dinheiro regular para o esporte. Era apenas o Orçamento da União, uma miséria.
2001 – É sancionada a Lei 10.264, que destina 2% das arrecadações das loterias para os Comitês Olímpico e Paraolímpico. Em 2010 isso representou R$ 230 milhões ao COB.
2005 Surge a Bolsa Atleta – hoje são cerca de três mil contemplados.
2006 – O governo cria a Lei de Incentivo ao Esporte e coloca R$ 300 milhões disponíveis para captação, via Imposto de Renda.
2010 - O Ministério do Esporte anuncia R$ 90 milhões para 18 modalidades, mas o dinheiro nunca foi liberado. Ficou na promessa.
2011 – Na “Era PT” de governo federal, o esporte chega a oito estatais financiando 30 modalidades olímpicas e paraolímpicas: Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero, Eletrobras, Correios e, mais recentemente, Casa da Moeda e BNDES
Dúvidas
O que seguidamente questiono é o quanto cada órgão recebe das várias fontes para o quê?
Claro que o dinheiro é aplicado em projetos específicos. Mas temos que considerar o seguinte: as confederações não tem despesas com uniformes, pois a Olympicus é patrocinadora oficial do COB; há recursos dos patrocinadores, da Lei de Incentivo, da Lei Piva e, finalmente, os atletas têm a Bolsa do Ministério do Esporte.
Ou seja, é dinheiro de muita fonte para um mesmo fim.
Estamos a quatro dias do mês de abril e ainda não temos o balanço anual dos recursos da Lei Piva de 2010. O COB, que faz essa prestação de contas a cada início de ano, promete os resultados do ano passado para breve.
E o Ministério do Esporte tem o controle sobre o total destinado a cada confederação? Quem faz essa fiscalização para que faça projeções sobre o futuro do esporte no país?
Pois não temos nada disso. Apesar de o Estado ser o grande financiador do esporte de rendimento, a gestão do dinheiro é na base do “cada um por si”.
Aliás, o Ministério do Esporte até que tentou tomar as rédeas dos gastos, mas uma “rebelião silenciosa”, em setembro do ano passado, sufocou a pretensão de Orlando Silva. Não sei se para o bem ou para o mal, pois contar com fiscalização do Ministério do Esporte? Sei não.
Contarei brevemente sobre isso, pois é mais um capítulo triste da nossa realidade esportiva.


Ao contrário do atletismo, Ciclismo esconde casos de doping

A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) divulgou a suspensão por dois anos do atleta Lourival do Nascimento Libaneo. O corredor foi flagrado em exame antidoping.

Este é um dos raros comunicados que se lê nas páginas oficiais das nossas confederações. Porque, quando o assunto é doping, cada entidade adota uma postura. Umas divulgam para que o assunto se torne público. Outras escondem e evitam a exibição do nome do atleta.

A Confederação Brasileira de Ciclismo, por exemplo, não divulga absolutamente nada sobe os casos de doping que julga ou dos que são avaliados no exterior.

O presidente da Confederação, José Luiz Vaconcellos, diz que o exame pertence ao atleta ele deve decidir sobre divulgar ou não.

Caso brasileiro
No sábado, conversei longamente com Vasconcellos. Ele me confirmou que, de fato, o atleta Pedro Nicacio, de Pindamonhangaba, está suspenso desde julho do ano passado, por uso de droga proibida.
Porém, a Confederação de Ciclismo segue a orientação da União Internacional de Ciclismo e não divulga isso em seu portal.

Suspeitas
Com essa postura, crescem as suspeitas quando um atleta desaparece das competições.
Por exemplo, a goiana Clemilda Fernandes está sem competir desde fins de 2009.
Mesmo assim, ela foi contemplada com a Bolsa-Atleta internacional. É o segundo caso escandaloso que mostra a fragilidade do sistema implantado pelo Ministério do Esporte.
Segundo Vasconcellos, a brasileira, destaque do nosso ciclismo e integrante da equipe olímpica, não foi suspensa por doping, mas por “comportamento anti-desportivo”.
Numa determinada prova, na Itália, Clemilda foi acusada de prejudicar a vitória de uma concorrente. Julgada, acabou punida pela União Internacional de ciclismo: dois anos fora das competições.
Mas nem esse fato, longe de ser um caso de doping, segundo o presidente da CBCiclismo, foi divulgado no Brasil. Por que?

Explicação
Ora, o ciclismo tem o patrocínio do Banco do Brasil. E o banco preza muito a sua imagem, evitando que ela seja associada a escândalos. Seria uma tragédia de marketing.
Além disso, não é uma boa vincular casos de doping de atletas a um patrocinador que é importantíssima empresa governamental. Logo, escondem os casos. E faz de conta que está tudo limpo.
Mas, justamente por serem recursos públicos é que os resultados de todos os exames deveriam ser divulgados.
Nossos atletas, há bom tempo, são supridos por verbas oficiais. Logo, devem explicações de seus atos. E se falharam na forma de competir, ludibriando os adversários por métodos fora da ética esportiva, que respondam por essa falha, para que se possa diferenciar entre o bom e o mau competidor.
Há casos de outros atletas no ciclismo, campeões em suas provas, inclusive, que “sumiram” dos eventos.
Mas não há informações oficiais sobre eles. Continuo investigando.
Enquanto isso, façamos de conta de que estão todos bem, apenas, digamos, descansando...

Harrison Dillard – As Coisas Boas Vêm Para Quem as Aguarda
Alberto Murray Neto
Na segunda metade da década de 40, o melhor homem dos 110 metros sobre barreiras chamava-se Harrison Dillard, dos EUA.
Campeão Nacional de seu País, era o favorito disparado para ganhar a medalha de ouro Olímpica na prova de sua especialidade, nos Jogos de Londres, em 1948.
Nas eliminatórias norte-americanas, entretanto, uma fatalidade afastou-o da possibilidade de competir naquele evento. Dillard tropeçou na primeira barreira, perdeu seu rumo e a concentração, bateu em mais duas barreiras e cambaleou até a sétima barreira, quando teve que parar. Seus adversários, compatriotas, tomaram seu lugar na delegação dos EUA.
Dillard era discípulo de Jesse Owens, a quem conheceu aos 13 anos de idade e de quem ganhou a primeira sapatilha de corridas.
Embora Dillard estivesse fora da prova de sua especialidade, os 110 metros sobre barreira, queria, de todas as formas, estar em Londres.
Foi assim que resolveu participar das eliminatórias em uma outra modalidade, da qual nunca fora especialista, os 100 metros rasos. Dillard correu e classificou-se para os Jogos Olímpicos de Londres nos 100 metros rasos.
Na capital da Inglaterra, surpreendeu o mundo tornando-se campeão olímpico dos 100 metros rasos, com o tempo de 10s3, igualando o recorde olímpico.
Mas o que Dillard queria mesmo, era vencer aquela prova à qual dedicou todas as suas energias durante anos, os 110 metros sobre barreiras.
Esperou quatro anos. Correu e venceu a eliminatória dos EUA. E, em Helsinki, em 1952, Dillard finalmente conquistava o seu sonho. Tornava-se campeão olímpico nos 110 metros sobre barreiras, com tempo de 13s7, recorde olímpico.
Tornou-se o único Atleta da história Olímpica a vencer a prova dos 100 metros e dos 110 metros sobre barreiras.
Na entrevista coletiva Dillard disse:
“Atingi a vitória para a qual preparei meu coração. Coisas boas vêm para aqueles que as esperam.”
Ministério do Esporte leva projeto MinAtletismo da CBAt à Escola

Dirigente do Ministério comunicou decisão ao Presidente da Confederação Brasileira de Atletismo

Valeu o esforço. Há muitos anos a Confederação Brasileira de Atletismo pede a prática esportiva nas escolas do País. O presidente Roberto Gesta de Melo apresentou várias propostas oficiais aos homens do Governo. Em 24 de fevereiro último, a CBAt organizou um encontro em Manaus, com representantes do Ministério do Esporte, de Governos estaduais e de Prefeituras. Na ocasião, a Confederação apresentou o projeto Mini-Atletismo, elaborado por especialistas da IAAF e adaptado à realidade brasileira.

Cartilha distribuída pela Confederação aponta de forma pormenorizada a aplicação do projeto, voltado para crianças de 7 a 12 anos. Com a Cartilha e um preparo básico, professores e monitores poderão desenvolver o projeto de iniciação atlética. Com um determinado espaço e material reciclado, em que as próprias crianças ajudam a montar o evento, o projeto pode ser implantado em escolas, clubes, associações comunitárias etc.

"O diretor da Secretaria de Alto Rendimento do Ministério, Marco Aurélio Klein, telefonou-me e deu-me a boa notícia, de que o projeto será adotado pelo Ministério", disse Roberto Gesta de Melo. "O Ministério buscará um convênio com a Prefeitura de Anápolis (GO), para fazer um projeto piloto", disse Gesta, que lembrou ter sido o prefeito da cidade goiana, Antonio Roberto Gomide, presente ao encontro de Manaus, o primeiro a anunciar a adesão de sua cidade ao projeto da CBAt.

Paralelamente, outras entidades governamentais confirmam a intenção de implantar o Mini-Atletismo. Caso, por exemplo, dos Governos do Pará, Ceará e Santa Catarina, conforme manifestação dos responsáveis pela gestão da área esportiva destes Estados. O ex-nadador olímpico Rogério Romero, Secretário Adjunto em Minas Gerais, também prometeu defender a implantação do projeto nas escolas mineiras.

A Prefeitura de Sapiranga, na Grande Porto Alegre, também anunciou a adesão ao Mini-Atletismo, assim como várias associações de cidades de diferentes regiões do País, como Recife (PE), Guarulhos e Pindamonhangaba (SP).
Atletismo: CBAt somente adverte Campeã Mundial (Juvenil) pega no doping

A CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) anunciou que a atleta Geisa Rafaela Arcanjo, 18, será punida com uma advertência por ter testado positivo em exame antidoping feito em julho do ano passado.
O caso foi julgado, em Manaus, pela CDN (Comissão Disciplinar Nacional), 1ª instância da Justiça Desportiva da CBAt.
Na urina de Geisa, foi detectada a substância hidroclorotiazida, proibida pela Wada (Agência Mundial Antidoping). O exame foi realizado em 20 de julho, dia em que ela conquistou a medalha de ouro no arremesso de peso, com 17,02 m, no Mundial juvenil disputado no Canadá.
A substância, diurética, pode mascarar a presença de estimulantes que melhorem a performance dos atletas.
         Geisa perdeu a medalha de ouro. Desde 1994, o Brasil não tinha um campeão mundial juvenil. Na contraprova, ela testou positivo novamente, para a mesma substância.
         A atleta estava fora das pistas desde outubro e poderia ser suspensa por dois anos.
         Geisa disse ter tomado produtos para emagrecimento, como chá verde e óleo de cártamo, sem avisar os técnicos.
         "Era a primeira vez dela, e não havia a intenção de melhorar desempenho. Por isso, recebeu advertência", disse Edson Rosas, do CDN.
         "Os exames antidoping no Brasil não detectam se os diuréticos mascararam uma substância usada para melhorar o rendimento do atleta", declarou Rosas. O teste de Geisa, contudo, foi feito no Canadá.
A maratonista Maria Zeferina Baldaia, campeã da São Silvestre em 2001, e José Alessandro Bagio, flagrados em exames em 2010, vão a julgamento na semana que vem.
Meu comentário
A notícia acima mostra como uma decisão contribui para incentivar jovens atletas a fraudarem resultados e, assim, iludirem a legislação sobre doping.
1. A atleta testou positivo;
2. O medicamento está na lista dos proibidos pela WADA;
3. A punição seria suspensão por dois anos.

Mas a Comissão Disciplina da CBAt diz que “é a primeira vez...”
Pior: “o remédio não era para melhorar o resultado”!
É o que chamo de “cinismo olímpico”.
E porque a benevolência?
Porque, se fosse suspensa, Geisa desfalcaria ainda mais a já fragilizada equipe feminina de atletismo. Assim, deixa a garota ganhar ouro, dopada, mesmo. (José Cruz)