O atletismo de ontem e o de hoje
Nilson Duarte Monteiro (Técnico)
Comecei no atletismo precisamente em março de 1970, aos 12 anos de idade. Anos duros da ditadura, general Médici, tricampeonato no México, por aí vai.
Na verdade, eu já havia sido apresentado ao atletismo dois anos antes, em 1968, através de um filme das olimpíadas de Roma, 1960. Foi quando me apaixonei pelo esporte vendo a vitória de Abebe Bikila na maratona.
Pois bem, em 1970 o colégio onde eu estudava organizava todo ano as olimpíadas internas. Era um frenesi danado para a competição, que acontecia perto do final do ano.
Eram duas agremiações internas do colégio, Bandeira Azul (a qual eu era integrante) e Bandeira Branca. As competições se pareciam com as que acontecem nas escolas dos Estados Unidos; a rivalidade era salutar, o colégio inteiro ficava envolvido na competição. Os melhores atletas do colégio eram selecionados para competirem nos Jogos Municipais, depois vinha o Estadual e finalmente o grande objetivo de todos os atletas envolvidos, os JEBs.
Os Jogos Estudantis Brasileiros era uma verdadeira olimpíada. Viajávamos de ônibus para onde eram realizados os jogos, ficávamos 15 dias alojados em colégios que eram transformados em alojamentos e refeitórios. Era uma consagração de jovens e tudo custeado pelos estados participantes.
Era assim os anos 70 e 80, sem dinheiro público ou Bolsa-Atleta.
No Troféu Brasil de Atletismo, as provas tinham várias eliminatórias. As provas de fundo chegavam a ter duas baterias ou mais, tamanha a quantidade de atletas para competir.
Hoje, as provas de fundo não chegam a uma dezena de atletas. Os estádios de atletismo lotavam, ao contrário de agora, quando quem está na arquibancada são os atletas que aguardam a hora de competir. É triste.
Tudo isso acontecia sem Bolsa Atleta, sem dinheiro da Lei das Loterias, sem patrocínios de estatais, sem nada. O presidente da CBAt, Roberto Gesta de Melo, diz que em 23 anos de sua ditadura o Brasil ganhou mais medalhas que nos 70 anos anteriores. Mas não diz quanto ganhou dos cofres públicos para faturar medalhas.
A propósito, o presidente Gesta deveria se envergonhar, pois com o dinheiro que entrou nesses últimos 10 anos o atletismo deveria ter cinco vezes mais conquistas que nos 70 anos anteriores à sua gestão.
Eu teria vergonha dessa citação, pois nestes 23 anos que preside a CBAt e com o dinheiro que teve disponível, parece que Gesta se dedicou  mais ao seu museu olímpico, que cuida com muito carinho, do que com a evolução real do nosso atletismo.
O presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Roberto Gesta de Melo, tem um museu olímpico com peças raras. Outros dois se dedicam ao mesmo hobby no Brasil, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e o ex-presidente da ex-equipe Funilense de Atletismo e Federação Paulista de Atletismo, Sérgio Coutinho.